Literatura Sáfica

 Oi pra você aí do outro lado! Hoje eu vim contar sobre a minha experiência lendo Gearbreakers, uma ficção científica sáfica escrito pela Zoe Hana Mikuta, traduzido por Ana Beatriz Omuro e publicado aqui no Brasil pela Editora Melhoramentos.




Como o livro é narrado em forma de povs das personagens, vou falar sobre elas separadamente, a começar pela Sona.


Bellsona Steelcrest, Sona, é uma Piloto de Windup. Os windups são considerados deuses nesse mundo que ela vive e eles são pilotados por seres humanos que sofrem mutações para ficarem mais parecidos com uma máquina do que com um ser humano. Sona é órfã e foi criada na academia de pilotos, aquilo ali é tudo que ela conhece. Mas ela guarda rancor de Godolia pois um mecha assassinou não somente sua família como toda a vila que ela morava quando era criança, por isso ela ficou vagando por Godolia até chegar na academia e ser treinada pra virar uma piloto de Windup. Hoje, ela pilota uma Valquíria, o nível mais alto de Windup que existe, e sua sede de vingança contra esse sistema não tem fim e ela tá disposta a tudo pra poder derrubar esses deuses que foram inventados por humanos.


Eris Shindanai é uma Gearbreaker - pessoas que vivem em função de derrubar os mechas e assassinar os pilotos. Ela também é uma adolescente, assim como Sona, mas já tem uma equipe sob seu comando. Ela vive nas Terras Baldias, uma parte afastada de Godolia junto com os outros Gearbreakers. Ela teve que aprender a lutar muito cedo, aprender a usar armas e a fazer o que faz de melhor, derrubar windups, desde bem criança, uma força da natureza eu diria. 


Um dia, em uma de suas missões, Eris acaba sendo capturada por outros pilotos e é levada pra Academia pra ser interrogada e ela fica lá por um tempo até que Sona manipula seu supervisor para que ele deixe ela ver a Gearbreaker e é aí que a história começa a ficar interessante porque Sona tem um plano meio duvidoso pra tirar as duas da Academia e ir para os Gearbreakers e Sona se juntar a eles e finalmente poder colocar em prática todo esse desejo de vingança que ela alimentou durante anos e anos, na companhia de uma garota muito bonita por sinal. 


“Eu quero ser uma Gearbreaker. Quero muito. Só que sinto essa… essa… essa coisa terrível dentro de mim. Uma que fui forçada a alimentar porque precisava desse tipo de controle, dessa raiva, para me entorpecer. Não sei se algum dia vou ser capaz de não precisar dela, de não a desejar. Eu só… tenho muito medo de nunca ser uma boa pessoa.”


Esse livro foi uma mistura de coisas pra mim. Sabe quando um livro funciona mas ao mesmo tempo não funciona com você? Foi isso. Eu particularmente gostei das duas protagonistas, elas são bem opostas e isso acaba equilibrando a relação, porque uma é mais caótica e a outra é mais pé no chão, e como eu também gosto bastante de um slow burn, acabou que funcionou bem comigo.


Mas o mundo eu achei meio bagunçado. Algumas coisas não foram bem explicadas nesse livro e eu até poderia dizer que é porque o livro tem uma sequência, mas não faz sentido algum não ter introduzido o mundo por completo logo no primeiro livro. Os outros personagens não são muito cativantes também, e eu juro que se eu ler mais uma vez que você não tem minha permissão pra morrer ou algo assim eu vou gritar.

Também me pareceu um pouco suspeito que meia dúzia de adolescentes numa caminhonete consigam derrubar DEUSES de metal que tem toda uma tecnologia por trás de sua fabricação. Não me convenceu muito e eu acho que pra convencer presaria de mais alguma coisa. 


O livro não é ruim, é bom pra passar o tempo e pra distrair a cabeça, mas faltou um aprofundamento por parte da autora, o livro já tem mais de 400 páginas, dava muito bem pra explicar o que é aquele mundo, como esses deuses chegaram e como tudo aconteceu, sabe? Eu gostaria de mais respostas nesse primeiro livro. 


E uma última coisa que me pegou bastante também é que parece que o livro não tem um ponto alto. Tipo, as duas querem destruir o governo e tal e elas efetivamente tem um plano pra isso mas é apenas isso, parece que o livro não tem um ponto alto, não tem um plot, não tem nada disso. É meio frustrante.


Bom, por hoje é isso. Espero que tenham gostado e até a próxima <3 


 Oi pra você ai do outro lado! Hoje eu vim conversar sore o livro Sempre Teremos Lisboa, publicado de forma independente pela Julia Rietjens e que foi enviado pra mim como parceria, obrigada, Julia!




Bom, nesse livro vamos conhecer a Ananda, uma garota que foi abandonada pela mãe aos cinco anos de idade, ficando aos cuidados do pai, e passa 13 anos seguintes sonhando com o dia que vai poder reencontrar a mãe e refazer essa conexão que se perdeu com o tempo. No seu aniversário de 18 anos a mãe lhe envia a passagem de avião para que ela possa passar as férias de meio de ano em Lisboa, onde a mãe mora com a esposa. 


Mas as decepções começam logo de cara quando não é a mãe que está esperando por ela na saída do aeroporto, mas sim a assistente da mãe, Glória. E aí as coisas começam a ficar um pouco esquisitas. 


A mãe de Ananda não tem muito tato pra lidar com questões da maternidade. Ela não sabe conversar direito com a filha, não se esforça pra ir aos lugares junto com ela e não faz nenhum tipo de contato físico com a filha. E, obviamente, isso deixa a nossa protagonista muito chateada porque ela passou treze anos da sua vida pensando em como seria esse reencontro e criando várias expectativas pra isso pra ter tudo jogado fora.


Em contrapartida, Glória é um sol na vida de Nanda. Ela fica encarregada de levar a Nanda pra turistar em Lisboa e mostrar a cidade pra ela, mesmo dirigindo igual uma maluca, Nanda se deixa levar pelas gracinhas de Glória e elas acabam se apaixonando, no mais fofo dos romances clichês que você pode imaginar. 


“Ser adulto é uma série de tentativas e erros. E, às vezes, esses erros magoam outras pessoas.”


Eu gostei muito desse livro da Julia! Eu já tinha lido outro livro dela, com uma pegada mais YA, mas esse com toda certeza é meu favorito! A Julia soube amarrar super bem essa questão da maternidade - que é algo que me pega muito em livro -, de não saber como agir perto da filha de ficar meio sem eira nem beira e ela colocou isso de uma forma bastante suave e não tão horrível quanto poderia ser e eu acho que grande parte disso se deve à Glória, por ela ser essa peça leve que a narrativa precisava, um sol no meio das tempestuosas relações entre mãe e filha. Pois quando Ananda começa a perceber que talvez essa conexão com a mãe seja mais complicada do que ela pensa, Glória faz com que ela se sinta muito especial e a faz sentir coisas novas, é muito fofo, elas inclusive vão a um aquário e na minha cabeça nada pode ser mais romântico do que isso.


A ambientação tá incrível, eu me senti parte do livro e eu juro que esse livro mais parece um filme de sessão da tarde daqueles bem clichês que aquecem o coração da gente! A forma como a Julia escreveu esse livro me pegou do início ao fim, eu não conseguia parar de ler um segundo sequer de tão bom que estava a leitura. 


Esse livro é uma ótima pedida pra você que tá procurando uma leitura leve, fofa e que com toda certeza vai te fazer suspirar com essa história sáfica maravilhosa que se passa no verão europeu!


 Oi pra você aí do outro lado!


Hoje eu vim papear sobre o primeiro livro lido de 2025 que foi Tempo-Abstrato da Amanda Pickler, publicado pela SeLiga Editorial.





Victória Conti, nossa protagonista, vive uma vida meio sem graça. Ela tá insatisfeita com seu emprego como repórter numa revista de fofoca, não tem muita ambição e vive uma vida até que tranquila com seus pais, sua irmã mais nova e sua melhor amiga Isabel, com quem divide apartamento. Nesse ponto da história estamos em 2012.


Um dia, Vic acorda com uma dor de cabeça fora do normal e descobre que foi parar em 2022. Dez anos depois do dia em que ela foi dormir. A vida tá totalmente diferente, seus pais não falam mais com ela, sua irmã tem um filho, sua carreira agora deslanchou e ela é uma autora de sucesso, seu cabelo agora é outro e agora ela é casada com sua melhor amiga, a Isabel. 


Obviamente Vic sem saber o que fazer com tanta informação e com uma vida que ela duvida que seja mesmo a sua. Recorrendo a sua irmã mais nova, ela descobre que tem o problema de viajar para o futuro e que pelos próximos 3 meses essa será a vida dela. Ela vai precisar lidar com todas essas mudanças e não surtar com tudo isso.


“Abstração é algo difícil de explicar, algo intocável. Acho que, no fim, o ser humano também é. Ninguém sabe o que somos ou pra que servimos. Nem sabemos se somos de fato reais; se somos uma simulação, poeira das estrelas, o cancer de um organismo muito maior do que nós mesmos, células que se reproduzem mais do que deveriam, E, se você parar pra pensar, tudo o que a humanidade presa é, no fim, uma abstração: riqueza, sucesso, amor, poder. Tudo que compõe nossa personalidade é intocável, não quantitativo, imaginário, invisível. É tudo sentimento. Então acho que, sim, somos todos uma abstração.”


Esse livro está na lista dos 24 livros que quero ler em 2025 e foi muito bom ter começado por ele, acho que foi o pontapé perfeito pra começar o ano. Esse livro é cheio de nuances, mas acho que a que mais me impactou foi como a vida adulta massacra a gente. Esse livro tem muito de mim, de não entender o que tá acontecendo de não conseguir ter o mínimo de controle sobre a própria vida, de se encontrar no meio desse caos. 


E como a Vic viaja no tempo e consegue ver o futuro, mas não como esse futuro vai acontecer, o caminho que ela vai precisar percorrer até que aquele futuro se concretize, é bem interessante porque eu acredito que a graça da vida tá justamente ai, a gente vai ter o mesmo destino que já nos foi designado, acho que é impossível mudar o nosso destino e talvez isso soe um pouco pessimista, mas eu juro que não é; a graça da vida tá em justamente viver.


Tem uma parte do livro, mais perto do final, que fala justamente isso, que se a Vic tentasse mudar o destino dela, todas as outras pessoas envolvidas naquilo não existiriam e isso também é uma das poucas coisas que eu gosto na vida, as conexões. As pessoas que a gente ama ao longo da nossa vida, eu acredito que esse seja um dos grandes motivos que me fazem aguentar firme todos os dias apesar de estar vivendo no caos, são as pessoas que eu amo.


Por fim, eu gostei bastante desse livro, achei a leitura super fluida e divertida, me emocionei muito com a Vi e a Isabel, sofri muito também, então se você tá buscando uma leitura daquelas que você vai ficar viciado em saber o que vai acontecer, aposte em Tempo-Abstrato! Garanto que você não vai se arrepender.


 Oi pra você ai do outro lado!


Hoje eu vim contar sobre a minha experiência de leitura com Pegas de Supresa, um livro sáfico YA escrito pela Adiba Jaigirdar, publicado pela Darkside Books com tradução de Dandara Palankof.





Em Pegas de Supresa vamos conhecer a Nishat, uma garota Bengalí - Irlandesa que mora em Dublin com seus pais e sua irmã mais nova. Pelo fato ser uma pessoa não branca, Nishat sofre racismo na escola por conta de sua cultura, tanto que espalharam um boato de que a comida do restaurante do pai dela causava diarreia nas pessoas, apenas porque ele faz comidas tipicas do sul-asiático.


Em sua escola, na aula de administração, a professora propõe um concurso de negócios, cada grupo deve pensar em uma ideia de negócio e o grupo que se sair melhor na competição ganhará um prêmio. Nishat logo pensa em abrir seu próprio ateliê de Henna, uma coisa que ela ama fazer e que faz parte de sua cultura. Mas as coisas ficam bem ruins quando Flávia, sua crush, resolve que também vai fazer seu próprio ateliê de Henna. O Problema é que Flávia é Brasileira - Irlandesa, ou seja, na cultura dela não existe isso de Henna e mesmo assim ela se apropria daquilo alegando ser somente uma expressão artística. 


Mas acalma que não é só isso, além disso, Nishat resolveu se assumir lésbica para seus pais e a recepção não foi das melhores, os pais estão sem falar com ela e estão tratando ela com um “gelo”. Só coisa boa na vida da Nishat, né?


“Gente branca gosta de pensar que raça é algo cuja profundidade se resume apenas a acor da nossa pele. Talvez porque a cor da pele delas traga tantas vantagens.”


Quando eu peguei esse livro eu já imaginava algo grandioso porque ele foi muito elogiado na gringa e realmente é um livro ótimo. Os debates que o livro traz sobre racismo e apropriação cultural são muito bem descritos, quase que didáticos para que pessoas brancas consigam entender todas as problemáticas envolvidas. A Flávia também tem uma questão bem importante que é sexualização dela, só porque ela é brasileira as pessoas acham que ela é só carnaval-cerveja-e-pegação, e como brasileira eu posso afirmar que isso é bem real, as pessoas dos outros países enxergam a gente de uma forma bem ruim. O racismo vivido pelas duas protagonistas do livro é bastante real


Um ponto bem legal é a forma como a sexualidade da Nishat é abordada, por conta de sua cultura ser lésbica é algo que causa vergonha e ver como ela lida com isso é bastante impressionante. Mesmo que ela não seja tão popular como a Flávia, ela mantém sua ideia do ateliê de henna e persiste até o fim naquilo que acredita, mesmo com várias pessoas tentando sabotar ela.

O livro é bem divertido e a leitura é bastante fluida, vale a pena se aventurar por esse livro cheio de representatividade.