Oi pra você aí do outro lado! Hoje eu vim contar sobre a minha experiência lendo Gearbreakers, uma ficção científica sáfica escrito pela Zoe Hana Mikuta, traduzido por Ana Beatriz Omuro e publicado aqui no Brasil pela Editora Melhoramentos.




Como o livro é narrado em forma de povs das personagens, vou falar sobre elas separadamente, a começar pela Sona.


Bellsona Steelcrest, Sona, é uma Piloto de Windup. Os windups são considerados deuses nesse mundo que ela vive e eles são pilotados por seres humanos que sofrem mutações para ficarem mais parecidos com uma máquina do que com um ser humano. Sona é órfã e foi criada na academia de pilotos, aquilo ali é tudo que ela conhece. Mas ela guarda rancor de Godolia pois um mecha assassinou não somente sua família como toda a vila que ela morava quando era criança, por isso ela ficou vagando por Godolia até chegar na academia e ser treinada pra virar uma piloto de Windup. Hoje, ela pilota uma Valquíria, o nível mais alto de Windup que existe, e sua sede de vingança contra esse sistema não tem fim e ela tá disposta a tudo pra poder derrubar esses deuses que foram inventados por humanos.


Eris Shindanai é uma Gearbreaker - pessoas que vivem em função de derrubar os mechas e assassinar os pilotos. Ela também é uma adolescente, assim como Sona, mas já tem uma equipe sob seu comando. Ela vive nas Terras Baldias, uma parte afastada de Godolia junto com os outros Gearbreakers. Ela teve que aprender a lutar muito cedo, aprender a usar armas e a fazer o que faz de melhor, derrubar windups, desde bem criança, uma força da natureza eu diria. 


Um dia, em uma de suas missões, Eris acaba sendo capturada por outros pilotos e é levada pra Academia pra ser interrogada e ela fica lá por um tempo até que Sona manipula seu supervisor para que ele deixe ela ver a Gearbreaker e é aí que a história começa a ficar interessante porque Sona tem um plano meio duvidoso pra tirar as duas da Academia e ir para os Gearbreakers e Sona se juntar a eles e finalmente poder colocar em prática todo esse desejo de vingança que ela alimentou durante anos e anos, na companhia de uma garota muito bonita por sinal. 


“Eu quero ser uma Gearbreaker. Quero muito. Só que sinto essa… essa… essa coisa terrível dentro de mim. Uma que fui forçada a alimentar porque precisava desse tipo de controle, dessa raiva, para me entorpecer. Não sei se algum dia vou ser capaz de não precisar dela, de não a desejar. Eu só… tenho muito medo de nunca ser uma boa pessoa.”


Esse livro foi uma mistura de coisas pra mim. Sabe quando um livro funciona mas ao mesmo tempo não funciona com você? Foi isso. Eu particularmente gostei das duas protagonistas, elas são bem opostas e isso acaba equilibrando a relação, porque uma é mais caótica e a outra é mais pé no chão, e como eu também gosto bastante de um slow burn, acabou que funcionou bem comigo.


Mas o mundo eu achei meio bagunçado. Algumas coisas não foram bem explicadas nesse livro e eu até poderia dizer que é porque o livro tem uma sequência, mas não faz sentido algum não ter introduzido o mundo por completo logo no primeiro livro. Os outros personagens não são muito cativantes também, e eu juro que se eu ler mais uma vez que você não tem minha permissão pra morrer ou algo assim eu vou gritar.

Também me pareceu um pouco suspeito que meia dúzia de adolescentes numa caminhonete consigam derrubar DEUSES de metal que tem toda uma tecnologia por trás de sua fabricação. Não me convenceu muito e eu acho que pra convencer presaria de mais alguma coisa. 


O livro não é ruim, é bom pra passar o tempo e pra distrair a cabeça, mas faltou um aprofundamento por parte da autora, o livro já tem mais de 400 páginas, dava muito bem pra explicar o que é aquele mundo, como esses deuses chegaram e como tudo aconteceu, sabe? Eu gostaria de mais respostas nesse primeiro livro. 


E uma última coisa que me pegou bastante também é que parece que o livro não tem um ponto alto. Tipo, as duas querem destruir o governo e tal e elas efetivamente tem um plano pra isso mas é apenas isso, parece que o livro não tem um ponto alto, não tem um plot, não tem nada disso. É meio frustrante.


Bom, por hoje é isso. Espero que tenham gostado e até a próxima <3 


 Oi pra você ai do outro lado! Hoje eu vim conversar sore o livro Sempre Teremos Lisboa, publicado de forma independente pela Julia Rietjens e que foi enviado pra mim como parceria, obrigada, Julia!




Bom, nesse livro vamos conhecer a Ananda, uma garota que foi abandonada pela mãe aos cinco anos de idade, ficando aos cuidados do pai, e passa 13 anos seguintes sonhando com o dia que vai poder reencontrar a mãe e refazer essa conexão que se perdeu com o tempo. No seu aniversário de 18 anos a mãe lhe envia a passagem de avião para que ela possa passar as férias de meio de ano em Lisboa, onde a mãe mora com a esposa. 


Mas as decepções começam logo de cara quando não é a mãe que está esperando por ela na saída do aeroporto, mas sim a assistente da mãe, Glória. E aí as coisas começam a ficar um pouco esquisitas. 


A mãe de Ananda não tem muito tato pra lidar com questões da maternidade. Ela não sabe conversar direito com a filha, não se esforça pra ir aos lugares junto com ela e não faz nenhum tipo de contato físico com a filha. E, obviamente, isso deixa a nossa protagonista muito chateada porque ela passou treze anos da sua vida pensando em como seria esse reencontro e criando várias expectativas pra isso pra ter tudo jogado fora.


Em contrapartida, Glória é um sol na vida de Nanda. Ela fica encarregada de levar a Nanda pra turistar em Lisboa e mostrar a cidade pra ela, mesmo dirigindo igual uma maluca, Nanda se deixa levar pelas gracinhas de Glória e elas acabam se apaixonando, no mais fofo dos romances clichês que você pode imaginar. 


“Ser adulto é uma série de tentativas e erros. E, às vezes, esses erros magoam outras pessoas.”


Eu gostei muito desse livro da Julia! Eu já tinha lido outro livro dela, com uma pegada mais YA, mas esse com toda certeza é meu favorito! A Julia soube amarrar super bem essa questão da maternidade - que é algo que me pega muito em livro -, de não saber como agir perto da filha de ficar meio sem eira nem beira e ela colocou isso de uma forma bastante suave e não tão horrível quanto poderia ser e eu acho que grande parte disso se deve à Glória, por ela ser essa peça leve que a narrativa precisava, um sol no meio das tempestuosas relações entre mãe e filha. Pois quando Ananda começa a perceber que talvez essa conexão com a mãe seja mais complicada do que ela pensa, Glória faz com que ela se sinta muito especial e a faz sentir coisas novas, é muito fofo, elas inclusive vão a um aquário e na minha cabeça nada pode ser mais romântico do que isso.


A ambientação tá incrível, eu me senti parte do livro e eu juro que esse livro mais parece um filme de sessão da tarde daqueles bem clichês que aquecem o coração da gente! A forma como a Julia escreveu esse livro me pegou do início ao fim, eu não conseguia parar de ler um segundo sequer de tão bom que estava a leitura. 


Esse livro é uma ótima pedida pra você que tá procurando uma leitura leve, fofa e que com toda certeza vai te fazer suspirar com essa história sáfica maravilhosa que se passa no verão europeu!


 Oi pra você aí do outro lado!


Hoje eu vim papear sobre o primeiro livro lido de 2025 que foi Tempo-Abstrato da Amanda Pickler, publicado pela SeLiga Editorial.





Victória Conti, nossa protagonista, vive uma vida meio sem graça. Ela tá insatisfeita com seu emprego como repórter numa revista de fofoca, não tem muita ambição e vive uma vida até que tranquila com seus pais, sua irmã mais nova e sua melhor amiga Isabel, com quem divide apartamento. Nesse ponto da história estamos em 2012.


Um dia, Vic acorda com uma dor de cabeça fora do normal e descobre que foi parar em 2022. Dez anos depois do dia em que ela foi dormir. A vida tá totalmente diferente, seus pais não falam mais com ela, sua irmã tem um filho, sua carreira agora deslanchou e ela é uma autora de sucesso, seu cabelo agora é outro e agora ela é casada com sua melhor amiga, a Isabel. 


Obviamente Vic sem saber o que fazer com tanta informação e com uma vida que ela duvida que seja mesmo a sua. Recorrendo a sua irmã mais nova, ela descobre que tem o problema de viajar para o futuro e que pelos próximos 3 meses essa será a vida dela. Ela vai precisar lidar com todas essas mudanças e não surtar com tudo isso.


“Abstração é algo difícil de explicar, algo intocável. Acho que, no fim, o ser humano também é. Ninguém sabe o que somos ou pra que servimos. Nem sabemos se somos de fato reais; se somos uma simulação, poeira das estrelas, o cancer de um organismo muito maior do que nós mesmos, células que se reproduzem mais do que deveriam, E, se você parar pra pensar, tudo o que a humanidade presa é, no fim, uma abstração: riqueza, sucesso, amor, poder. Tudo que compõe nossa personalidade é intocável, não quantitativo, imaginário, invisível. É tudo sentimento. Então acho que, sim, somos todos uma abstração.”


Esse livro está na lista dos 24 livros que quero ler em 2025 e foi muito bom ter começado por ele, acho que foi o pontapé perfeito pra começar o ano. Esse livro é cheio de nuances, mas acho que a que mais me impactou foi como a vida adulta massacra a gente. Esse livro tem muito de mim, de não entender o que tá acontecendo de não conseguir ter o mínimo de controle sobre a própria vida, de se encontrar no meio desse caos. 


E como a Vic viaja no tempo e consegue ver o futuro, mas não como esse futuro vai acontecer, o caminho que ela vai precisar percorrer até que aquele futuro se concretize, é bem interessante porque eu acredito que a graça da vida tá justamente ai, a gente vai ter o mesmo destino que já nos foi designado, acho que é impossível mudar o nosso destino e talvez isso soe um pouco pessimista, mas eu juro que não é; a graça da vida tá em justamente viver.


Tem uma parte do livro, mais perto do final, que fala justamente isso, que se a Vic tentasse mudar o destino dela, todas as outras pessoas envolvidas naquilo não existiriam e isso também é uma das poucas coisas que eu gosto na vida, as conexões. As pessoas que a gente ama ao longo da nossa vida, eu acredito que esse seja um dos grandes motivos que me fazem aguentar firme todos os dias apesar de estar vivendo no caos, são as pessoas que eu amo.


Por fim, eu gostei bastante desse livro, achei a leitura super fluida e divertida, me emocionei muito com a Vi e a Isabel, sofri muito também, então se você tá buscando uma leitura daquelas que você vai ficar viciado em saber o que vai acontecer, aposte em Tempo-Abstrato! Garanto que você não vai se arrepender.


 Oi pra você ai do outro lado!


Hoje eu vim contar sobre a minha experiência de leitura com Pegas de Supresa, um livro sáfico YA escrito pela Adiba Jaigirdar, publicado pela Darkside Books com tradução de Dandara Palankof.





Em Pegas de Supresa vamos conhecer a Nishat, uma garota Bengalí - Irlandesa que mora em Dublin com seus pais e sua irmã mais nova. Pelo fato ser uma pessoa não branca, Nishat sofre racismo na escola por conta de sua cultura, tanto que espalharam um boato de que a comida do restaurante do pai dela causava diarreia nas pessoas, apenas porque ele faz comidas tipicas do sul-asiático.


Em sua escola, na aula de administração, a professora propõe um concurso de negócios, cada grupo deve pensar em uma ideia de negócio e o grupo que se sair melhor na competição ganhará um prêmio. Nishat logo pensa em abrir seu próprio ateliê de Henna, uma coisa que ela ama fazer e que faz parte de sua cultura. Mas as coisas ficam bem ruins quando Flávia, sua crush, resolve que também vai fazer seu próprio ateliê de Henna. O Problema é que Flávia é Brasileira - Irlandesa, ou seja, na cultura dela não existe isso de Henna e mesmo assim ela se apropria daquilo alegando ser somente uma expressão artística. 


Mas acalma que não é só isso, além disso, Nishat resolveu se assumir lésbica para seus pais e a recepção não foi das melhores, os pais estão sem falar com ela e estão tratando ela com um “gelo”. Só coisa boa na vida da Nishat, né?


“Gente branca gosta de pensar que raça é algo cuja profundidade se resume apenas a acor da nossa pele. Talvez porque a cor da pele delas traga tantas vantagens.”


Quando eu peguei esse livro eu já imaginava algo grandioso porque ele foi muito elogiado na gringa e realmente é um livro ótimo. Os debates que o livro traz sobre racismo e apropriação cultural são muito bem descritos, quase que didáticos para que pessoas brancas consigam entender todas as problemáticas envolvidas. A Flávia também tem uma questão bem importante que é sexualização dela, só porque ela é brasileira as pessoas acham que ela é só carnaval-cerveja-e-pegação, e como brasileira eu posso afirmar que isso é bem real, as pessoas dos outros países enxergam a gente de uma forma bem ruim. O racismo vivido pelas duas protagonistas do livro é bastante real


Um ponto bem legal é a forma como a sexualidade da Nishat é abordada, por conta de sua cultura ser lésbica é algo que causa vergonha e ver como ela lida com isso é bastante impressionante. Mesmo que ela não seja tão popular como a Flávia, ela mantém sua ideia do ateliê de henna e persiste até o fim naquilo que acredita, mesmo com várias pessoas tentando sabotar ela.

O livro é bem divertido e a leitura é bastante fluida, vale a pena se aventurar por esse livro cheio de representatividade. 


 Oi pra você ai do outro lado!

Hoje eu vim falar sobre um livro que foi muito especial pra mim, o tipo de livro que me abraçou enquanto eu lia, Guia para Lésbicas na Escola Católica, escrito por Sonora Reyes, com tradução de Jana Bianchi e publicado aqui no Brasil pela Darkside Books





Nesse livro vamos conhecer Yamilet Flores, Yami para os íntimos. Ela é uma imigrante mexicana que mora nos estados unidos com sua mãe e seu irmão, seu pai foi deportado há algum tempo e ela só mantém contato com ele por chamada de vídeo. 


Ela vivia uma vida normal, até sua ex-melhor amiga, Bianca (eu juro que é coincidência) tirá-la do armário a força quando confessou sua paixão por ela. Bianca inclusive foi bem péssima por cortar contato com a Yami e dizer coisas nada amigáveis quando ela contou que é lésbica. Seu irmão mais novo, que estuda na mesma escola que ela, também vive se metendo em encrenca na escola, por isso a mãe deles resolve mudá-los de escola e os matricula em uma escola católica. 


Nessa nova escola, Yami está decidida a se passar por hétero pra conseguir se encaixar. Ninguém ali precisa saber sobre sua sexualidade, muito menos sua mãe. Também é uma chance de seu irmão fazer novos amigos e parar de se meter em brigas. Parece o plano perfeito, certo?


Só que esse plano começa a ir por água abaixo quando Yami conhece Bo, uma garota abertamente queer e lésbica no colégio católico e se apaixona por ela, mas ela ainda tá determinada a fingir que é hétero pra que ninguém saiba sobre sua paixonite pela melhor amiga.


“É tão ruim assim querer dar e receber dos meus amigos o mesmo nível de afeição que outras pessoas demonstram com os amigos delas? Como gosto de garotas, porém, todo tipo de contato físico é considerado sexual. É solitário.”


Esse definitivamente é o tipo de livro que eu gostaria de ter lido quando era mais nova. Eu gosto muito de romances YA por causa disso, parece um abraço na Bianca adolescente que se sentia completamente diferente das outras meninas, que não gostava de ficar falando de meninos. É um carinho na alma.


A construção do relacionamento da Yami com a Bo é muito fofa! Como o livro é narrado pela Yami, podemos ver todos os surtos dela quando a Bo encosta nela e quando elas vão tendo uma amizade mais próxima, é muito muito fofo. A relação da Yami com o irmão e com a mãe também é bastante presente no livro e é muito bem trabalhada. 


A relação com a mãe é um tanto complicada, pois Yami tem medo de se assumir pra mãe e ter que sair de casa, por conta de sua mãe ser bastante religiosa, então ela chega a trabalhar em bijuterias com a mãe pra poder levantar uma grana e poder alugar um apartamento quando se assumir pra mãe, caso não tenha onde ficar depois disso. A relação com o pai é aparentemente boa, eles se falam sempre e ela gosta bastante do pai, mesmo que ele esteja longe, Yami se sente compreendida e entendida pelo pai. 


Outro ponto bem bacana é que o livro aborda bastante a solidão lésbica, uma coisa que já falei aqui anteriormente, mas basicamente é um tipo de solidão muito dolorido, o qual suas amigas não falam mais com você por conta da sua orientação, você perde muitos afetos e fica meio “sem eira nem beira” no mundo, sem ter com quem ser verdadeiramente sincero e com medo de todo mundo. É bastante triste, mas tremendamente real que uma adolescente precise passar por isso. 


Além disso, o livro levanta questões sobre aceitação parental, imigração, a solidão das pessoas queer de não poderem ser quem elas são por medo de ficar sem casa ou perder a pouca rede de apoio que temos, também traz temas como homofobia, xenofobia e tentativa de suicídio, então se algum desses temas for sensível pra você, se preserve e continue a leitura depois.


O último ponto que gostaria de ressaltar é que a tradução da Jana foi brilhante, sério. O livro ficou super fluido e ela colocou muitas expressões bem típicas do Brasil na tradução e isso tornou a leitura ainda mais divertida por conta dessa aproximação com a realidade do leitor, foi realmente uma das melhores traduções que já li.


Por hoje é isso, espero que tenham gostado do texto e me contem se vocês já leram esse livro ou se tem vontade de ler. Até o próximo texto! 





Sobre ê autore

Sonora Reyes é autore de romances contemporâneos para jovens adultos nascide e criade no Arizona, Estados Unidos. Escreve livros protagonizados por personagens queer, latinos e com várias identidades de gênero. Sonora também é cofundadore do QPOCFest, um festival literário virtual que celebra autores e livros queer, trans e BIPOC. Além de escrever, adora dançar, cantar no karaokê e brincar com seus sobrinhos.


 Oi pra você ai do outro lado!

Hoje eu vim contar como foi minha experiência de leitura com Um Traço até Você da Olivia Pilar, publicado pela Editora Intrínseca em 2023. O e-book do livro foi enviado pra mim pela agência da autora.




O livro é protagonizado pela Lina, uma jovem adulta que cursa administração numa das melhores universidades de Belo Horizonte, mas tem o sonho de ser ilustradora e pra se aperfeiçoar na arte dos desenhos, ela quer fazer um curso no Chile com uma ilustradora que ama, mas como seus pais não botam muita fé nesse sonho, ela não quer pedir dinheiro pra eles e resolve ir atrás de um estágio pra levantar a grana da viagem. 


Ela consegue um estágio em um projeto que parece bem bacana, que estuda diversidade no meio da maquiagem, mas como nem tudo na vida são flores, ela vai ver que esse estágio e as pessoas que coordenam esse projeto não são muito respeitosas com ela e que essa situação horrível talvez tenha relação com a cor da pele dela. 


Em paralelo a isso, Lina conhece Elza, uma estudante do curso de Letras super engajada em causas sociais e que vem de uma realidade diferente da de Lina, que mora num apartamento confortável numa área nobre e é filha de mãe advogada e do pai que é dono de uma das maiores corretoras da cidade.


Conforme as duas vão se relacionando e Lina vai descobrindo a força dos afetos e entendendo o quanto gosta da Elza, ela vai entender o que é racismo e como a cor da pele dela faz com que as pessoas a enxerguem de forma diferente, independente de qualquer outra coisa sobre ela. 


“Lina, sério, não existe isso. Preto é preto. Você vai ver… Quando menos esperar, uma lembrança vai surgir e você vai perceber que a situação só aconteceu porque você é preta.”


Esse livro é um soco no estômago. Eu já conheço a escrita da Olívia faz bastante tempo, já li todos os contos independentes dela e sei que ela tem narrativas lindas e super sensíveis sobre amor entre garotas e fala muito da questão racial também, mas esse livro aqui me destruiu.


É muito cruel ver a Lina começar a entender o racismo já adulta e como isso afeta a vida dela e o quão dolorido é quando ela se dá conta de que sempre passou por situações assim, mas nunca tinha percebido. Além de ter uma escrita super fluida, a Olívia conecta tão bem todos os pontos da história que, em determinado ponto, você não consegue largar o livro, você só precisa saber urgentemente o que vai acontecer e fica preso ali até que o livro acabe.


O livro é potente demais, pois mostra algo que as pessoas pretas falam com frequência, que é importante afro centrar os afetos, que é importante que você tenha pessoas que gostam de você que sejam da mesma cor, porque são dores que somente um igual pode entender. 


Eu gostei muito da história da Lina e da Elza, se você continua em dúvida se deve ler ou não, eu digo: leia. É um livro incrível e muito sensível, muito bonito e quase didático pra pessoas não negras, como é o meu caso. Recomendo demais a leitura!


Por hoje é isso, até o próximo livro!




SOBRE A AUTORA


Olívia Pilar é escritora, mestra e doutoranda em Comunicação Social pela UFMG. Busca trazer representatividade para suas histórias, que têm protagonistas negras e garotas que gostam de garotas. Publicou cinco contos de forma independente, entre eles “Quando o sol voltar” e “Entre estantes”. Também participou de diversas coletâneas e antologias, como Flores ao mar, Todo mundo tem uma primeira vez, De repente adolescente e Sobre amor e estrelas (e a cabeça nas nuvens). Um traço até você é seu romance de estreia. (fonte: site da editora)


 Oi pra você ai do outro lado!

Hoje eu vou contar como foi a minha experiência com a leitura de Sangue Fresco, um YA sáfico com vampiros escrito por Sasha Laurens, publicado pela Rocco e traduzido pela Sofia Soter e que com certeza é uma ótima leitura se você tá precisando de algo pra distrair a cabeça e não precisar pensar muito.


Esse livro é narrado em formato de POV - Point Of View - de duas personagens, a Kat Finn e a Taylor. A Kat é uma vampira que convive com humanos por decisão de sua mãe, que é uma vampira sem ancestral e foi transformada sem querer - o que é muito mal visto na comunidade, então ela não tem muito contato com a comunidade vampírica. Já a Taylor é de uma família tradicional de Vampiria e estuda em um colégio interno super famoso que se chama Harcote, conhecido por ser extremamente caro e só algumas poucas pessoas podem estudar lá, e a Kat quer muito estudar lá, mas ela sabe que a mãe dela jamais teria dinheiro pra pagar as mensalidades.




Antes de continuar é importante dar um contexto sobre o mundo: o mundo foi assolado por uma doença que se chama DFaC, e essa doença, além de fazer com que humanos sofram bastante, impede que vampiros bebam o sangue dos humanos, pois se o fizerem, eles morrem; inclusive o pai da Kat morreu durante o surto dessa doença, chamado no livro de época do Perigo. Pra que os vampiros não fossem exterminados, criou-se a Hema, que é um substituto artificial do sangue humano, que vocês já podem imaginar que seja bastante caro e não são todos os vampiros que têm acesso a isso, inclusive a família da Kat se esforça muito pra conseguir pagar por ela e não morrer de fome.


Voltando pras nossas protagonistas: a Kat estuda em um colégio de humanos, mas ela quer muito frequentar Harcote e um dia ela tenta a sorte de conseguir uma bolsa dentro do colégio e depois de alguns meses de espera, ela recebe uma resposta: absolutamente todos os custos com estudo serão pagos por um benfeitor misterioso e ela poderá estudar no colégio. Ela decide ir mesmo que sua mãe seja veementemente contra isso tudo, chegando lá, ela descobre que vai dividir o quarto com a Taylor e é aí que o problema começa: as duas meio que se odeiam. 


Quando era mais nova, Kat e sua mãe passaram um tempo morando na casa dos pais da Taylor, pois elas não tinham onde ficar e, um dia elas tiveram que sair às pressas da casa porque os pais da Taylor descobriram sobre a transformação da mãe e a expulsaram, só que a única pessoa que sabia sobre como a mãe foi transformada era Taylor, que na época era melhor amiga de Kat e até hoje ela se ressente disso e guarda mágoa. Então já da pra imaginar o caos que vai ser ter que dividir quarto com a pessoa que arruinou a sua vida né?!


“[...] a forma como nossas barrigas doíam de tanto rir, sua tendência de me meter em encrenca, os olhares entre nós que eram um idioma inteiro, a sensação que brotou no meu peito quando prometemos: sem segredos.”


Esse livro é uma gracinha, sério! Sabe quando você tá meio cansado e precisa de um livro pra distrair a cabeça? É esse. Aquela história fofa, que você não precisa pensar muito durante a leitura, cumpre exatamente o que promete e ainda tem romance sáfico com vampiras, é maravilhoso.


Além dessa situação entre a Kat e a Taylor, que vão ter que dividir um quarto se odiando - eu amo esse plot meu deus - também tem alguns outros pontos que deixam a história mais interessante, como quem é aquele benfeitor e porque justo a Kat já que ela não é ninguém em Vampíria? Também tem um assassinato misterioso e a mãe da Kat que esconde muitos segredos, inclusive sobre a separação das amigas, que a história não é bem assim, já que cada uma sabe de uma versão da história.


A Taylor é maravilhosa, já começamos o livro sabendo que ela é lésbica e acompanhamos a Kat se entendendo enquanto pessoas queer e eu adoro livros que falem sobre isso, eu me identifico bastante, pois foi na adolescência que eu me entendi lésbica também, é sempre muito gostoso acompanhar essa trajetória. 


Os outros personagens do livro e os acontecimentos “secundários” trouxeram um charme a mais pra narrativa e eu gostei bastante, mesmo que esses acontecimentos tenham se resolvido muito rápido no final e o meio tenha ficado mais cheio do que deveria, eu gostei. Ele cumpre bem a função de ser um romancinho divertido e bobinho, não é aqueles livros que você começa a ler esperando achar seu novo livro favorito da vida, é um livro pra distrair a cabeça e ele cumpre exatamente o que promete.


Espero que você tenha gostado do texto e se gostou, deixe um comentário e me conte se já leu ou tem vontade de ler esse livro!


Por hoje é isso, até o próximo livro!




Sasha Laurens é autora de dois romances young adult de fantasia, A Wicked Magic e Sangue fresco. Cresceu na área da Baía de São Francisco e já morou em Nova York, Michigan e São Petersburgo, na Rússia. Atualmente, mora no Brooklyn e usa seu PhD em ciências políticas para pesquisar protestos em governos autoritários.


 Oi pra você ai do outro lado!


Hoje eu vim contar sobre minha experiência com o livro “Garota, Serpente, Espinho” escrito pela Melissa Bashardoust, publicado pela editora Literalize com tradução de João Rodrigues. Um livro que eu tava namorando desde quando lançou e que fiquei imensamente feliz de ter ganhado de presente de aniversário 





Nesse livro vamos acompanhar a Soraya, uma princesa amaldiçoada quando ainda era bebê com veneno nas veias, isso faz com que qualquer coisa que ela toque, pessoa ou animal, morra envenenado em questão de minutos; a única coisa imune a esse veneno são plantas, por isso ela cultiva um lindo jardim no castelo. 


Por conta desse veneno, Soraya é uma princesa reclusa, sua família a esconde pra evitar falatório sobre a família real e ela se move sorrateiramente por maio de passagens secretas no castelo, nunca vai a comemorações por medo de encostar em alguém. 


Entretanto, alguma coisa muda em Soraya quando ela descobre que existe um dev - o tipo de demônio que a amaldiçoou quando bebê - preso na masmorra do castelo, ela quer ir falar com esse dev sobre sua maldição pra que ele a ensine como quebrá-la, porém, os devs são conhecidos por não serem confiáveis e sempre quererem algo em troca de informações. 


Enquanto ela tenta descobrir como quebrar sua maldição, Soraya descobre muito sobre seu passado e o passado de sua família e as coisas tomam rumos inesperados e ela precisa lidar com esse turbilhão de descobertas. 


“Tinha lido histórias demais para saber que a princesa e o monstro nunca eram a mesma pessoa. E também passara tempo sozinha o suficiente para saber qual dos dois ela era.”


Esse foi meu primeiro contato com a autora e já adianto que quero ler o outro livro dela, “Garotas de neve e vidro” que também é uma fantasia sáfica de volume único!


A história me prendeu desde o começo por conta da maldição da Soraya e da ligação que ela tem com as histórias de seu povo, inspirado na cultura persa, e é muito diferente do que a gente costuma ver por aí. 


Uma das coisas mais impactantes pra mim foi pensar que a Soraya nunca tinha sido tocada na vida e eu me peguei pensando no quão doido isso seria, imagina não poder encostar em nada, que loucura? E viver isolada por medo e porque a família real não pode sofrer com a sua maldição também é bem cruel e, conforme avançamos na leitura, descobrimos que o buraco dessa maldição é muito mais fundo do que pensávamos e isso também é um ponto muito positivo, pois a autora amarrou muito bem a história e não deixou dúvida alguma e eu simplesmente amo livros assim. 


O romance sáfico no livro é uma graça e talvez meio inesperado, muitas vezes eu me peguei surtando por elas, uma fofura sem tamanho, sério. Os personagens do livro são cativantes e muito bem escritos, eu gostei demais da ambientação e dos monstros da história, tudo foi muito bem feito e acho que acabou fazendo com que eu ficasse ainda mais imersa na história. Estou animada pra conhecer o outro livro da autora e espero que seja tão bom quanto esse!


“Eu sempre me pergunto quem eu teria sido sem esse maldição, que tipo de pessoa seria caso não tivesse crescido escondida e com vergonha.”


Porém, como nem tudo são flores, tenho uma ressalva a ser feita sobre a edição em português que, em alguns momentos, me deu uma atrapalhada na leitura: a fluidez da tradução e/ou da revisão do texto. Mas como pode se você disse que a história é fluida? Vou explicar.


A proposta da autora é, sim, excelente, a história é sim ótima, mas não consigo dizer exatamente o que me atrapalhou, tiveram erros de revisão, as frases estavam mal escritas e algumas frases eu até demorei pra pegar o sentido da coisa, achei que faltaram algumas notas de rodapé sobre alguns termos traduzidos que não são de conhecimento geral, coisas desse tipo, sabe? Isso me deixou meio travada na leitura em algumas partes, não sei se eles vão arrumar isso na segunda edição do livro, porque a minha ainda é da primeira leva, não sei. Mas vi outras pessoas comentando que isso também os incomodou. 


Por fim, se você procura uma fantasia divertida, com leitura fluida e romancinho sáfico, monstros e maldições, pode ir nesse livro sem medo.






Melissa Bashardoust graduou-se em Inglês pela Universidade da Califórnia, onde redescobriu seu amor pela escrita criativa, pela literatura infantil, pelos contos de fada e seus recontos. Ela vive no sul da Califórnia com sua gata Alice, e certamente tem mais exemplares do romance britânico Jane Eyre do que ela de fato necessita. Garotas de Neve e Vidro é sua estreia na literatura jovem.